Alguns livros de uma vida


malcolmLowryVulcao

 

MALCOLM LOWRY — DEBAIXO DO VULCÃO

Livro emblemático e transversal a várias gerações, livro de culto para os que fazem da literatura uma descida aos territórios mais obscuros e atormentados da existência e da alma, esta viagem ao México profundo é sobretudo a viagem de um sonhador desesperado, entregue aos demónios da tequila e do mezcal, mergulhado nos abismos insondáveis da natureza humana, demasiado humana.


kerouac

 

JACK KEROUAC — PELA ESTRADA FORA

Tem a leveza e a ingenuidade da grande paisagem americana, das estradas infindáveis, do pó dos desertos, das travessias diurnas e nocturnas do ser vagabundo, do nómada que há em muitos de nós. Foi uma espécie de vento errante que me me bateu fortemente no rosto, décadas atrás, quando o mundo era um lugar mais vasto de quimeras, excessos e descobertas surpreendentes.


RosaMundo

 

ANTOLOGIA — ROSA DO MUNDO

2001 poemas universais reunidos numa antologia de inestimável valor, um trabalho árduo a várias mãos, organizado pela editora Assírio e Alvim, numa época em que o amor pela poesia unia os mais sensíveis à volta de projectos que ficaram como marcos indeléveis da edição em Portugal. A prova de que não há nenhum país de poetas em particular, como tantas vezes a propaganda nacionalista gosta de reivindicar, a prova de que a poesia é do mundo e todos os poetas são do mundo, antes de serem de aqui ou de ali.


PaisOutubro

 

RAY BRADBURY — O PAÍS DE OUTUBRO

Quase sempre remetido para as estantes da chamada Ficção Científica, Bradbury, apesar de andar pelos caminhos desse género literário vai muito mais além, como neste livro de contos que é um exemplo acabado da sua escrita luminosa, terna, poética sem ser poesia, quase infantil sem ser ingénua, acima de tudo um prodígio de fantasia e imaginação.


LongeVeraCruz

 

ENRIQUE VILA-MATAS — LONGE DE VERACRUZ

Um dos vários títulos deste autor espanhol, catalão, que tive o imenso prazer de traduzir, pela sua lucidez desarmante, pela argúcia de uma escrita elevada aos mais altos parâmetros da inteligência literária, com o seu humor mordaz que mesmo perante os mais trágicos acontecimentos da vida comum encontra na ironia uma forma privilegiada de contar.


memoriasAdriano

 

MARGUERITE YOURCENAR — MEMÓRIAS DE ADRIANO

Muito antes do boom da hoje tão aclamada e rentabilizada Ficção Histórica, Yourcenar já nos brindava com esta maravilha de análise, compreensão, percepção de uma humanidade cujas figuras históricas de maior renome são vistas a uma luz mais sensível, mais profunda, que só a grande literatura pode revelar.


AEstrada

 

CORMAC MCCARTHY — A ESTRADA

Árida, implacável, sem lugar para esperança nem redenção, esta estrada só pode ser percorrida por anti-heróis, quase sem biografia, quase sem abrigo para o corpo e para a alma, num universo apocalíptico e devastado, em que para o homem já não existem sonhos mas apenas uma luta tenaz pela sobrevivência num mundo cruel e condenado.


AlexandriaQuartet

 

LAWRENCE DURRELL — O QUARTETO DE ALEXANDRIA

Que deslumbramento. Que alegria. Ainda hoje, décadas passadas, sempre que na minha estante dou de caras com Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1958) e Clea (1960), sinto um renovado estremecimento e os meus dedos tocam ternamente estes livros de uma beleza ímpar, este quarteto de personagens inesquecíveis que só o imenso talento de Durrell poderia conduzir às paragens do sublime.


PoesiaAlvaroCampos

 

FERNANDO PESSOA — ÁLVARO DE CAMPOS

Para além das modas (a favor e contra), das polémicas estéreis e narcisistas, dando de barato consagrações académicas e aproveitamentos despudorados por parte do Poder, para mim Pessoa, sobretudo Álvaro de Campos, é a melhor prova de que em Portugal houve quem, ignorado no seu tempo e solitário, fez mais pela nação do que muitos governantes agarrados a vaidades e cifrões.


AIlhaArturo

 

ELSA MORANTE — A ILHA DE ARTURO

Que longe vão os meus dias de adolescência e descoberta da vida, dos primeiros amores desenhados no horizonte, dos primeiros barcos com o seu porão carregado de portos, ilhas, viagens, que longe brilham as estrelas no céu antigo da minha bondade, que emocionante e nostálgico é regressar hoje à ilha de outrora e, através de um livro que me enternece, recordar as venturas e desventuras dos sonhadores adolescentes.


Terras do Meu Pais

 

CESARE PAVESE — TERRAS DO MEU PAÍS

E já que me deu para a saudade, por que não reler Pavese, neste título ou noutro, por exemplo Férias de Agosto ou A Lua e as Fogueiras ou O Diabo sobre as Colinas, mas para mim sobretudo neste, não por ser o melhor (?) ou o mais significativo, mas pela sua carga telúrica, vital, pelas searas, pelas uvas, pelas vindimas, pelo mês de Agosto e pelo mês de Setembro, pela comovida ligação às coisas simples, ao rosto da terra e do céu, às paisagens da juventude perdida.


O Despertar dos Magicos

 

LOUIS PAWELS e JACQUES BERGIER — O DESPERTAR DOS MÁGICOS

Sobretudo em tempos de desenfreado materialismo, de tecnologias e tecnocracias, é sempre refrescante e até divertido partir para outras geografias do conhecimento, por muito discutíveis que sejam, por muito que as desprezem os defensores do cientismo, do imediatismo, do cinzentismo politicamente correcto. Acredite-se ou não nos episódios e fenómenos criteriosamente relatados nesta volumosa edição, a mim reconcilia-me com o cosmos, com o outro lado daquilo que sabemos ou julgamos que sabemos. Para mim, é sempre bem-vindo o outro lado. Porque este já me cansa demasiado e desilude.


oSomFuria

 

WILLIAM FAULKNER — O SOM E A FÚRIA

O som continua igual a si próprio porque nas obras intemporais nada se apaga, nada se desvanece, os tambores continuam a ressoar, a fúria é sempre a mesma quando a vida dói, quando há seres atormentados que destroem e se auto-destroem, sem contemplações. O precursor do novo romance, pai de muita gente da literatura moderna que pretende não ter paternidade, será sempre um mestre na arte de narrar a decadência ainda que de uma forma fechada, complexa, e tantas vezes violenta.